Trabalhadores do setor de vigilância privada no estado da Bahia encontram-se em greve desde 24 de maio. Comandados pelo Sindicato dos Vigilantes, filiado à CUT, tem conseguido uma adesão surpreendente impactando na prestação de serviços bancários, atendimento de serviços da previdência pública e suspendendo o funcionamento de museus na cidade de Salvador.
A surpresa no nível de adesão deve-se à fragilidade do vínculo trabalhista (a quase totalidade da mão-de-obra é “terceirizada”) e ao cenário de desemprego que deixa os trabalhadores inseguros.
As motivações — a motivação fundamental da greve é a negativa patronal em conceder aumento real e sequer repor a inflação passada.
Também é motivo de impasse a tentativa patronal de ampliar a duração do turno de trabalho, ainda que sob a forma de hora extra, para além de 12 horas contínuas. Jornadas com esta extensão expõe os trabalhadores a um nível de exaustão insuportável sendo uma fonte potencial de doenças e acidentes de trabalho.
Cotas para mulheres — um ponto em negociação que influencia na decisão de greve, mas que acredito que não seja suficiente para sustentá-la, é a adoção de reserva de 30% dos postos de trabalho para trabalhadoras do sexo feminino.
Apesar de contemplar as políticas afirmativas de gênero esta iniciativa não vem sendo repercutida pelas organizações feministas, provavelmente por desconhecimento.
Segurança pública em xeque — o nível de adesão à greve e a consequente suspensão de serviços prestados à sociedade evidencia a crescente importância da segurança privada na manutenção da normalidade do cotidiano das grandes cidades. O que nos leva à necessidade de reflexão sobre o conceito de “segurança pública” e quais os mecanismos de controle social sobre o crescente contingente de agentes de segurança privada armada.
E a solidariedade de classe ? — para finalizar, e retornando à esfera sindical, observo a necessidade de gestos de solidariedade efetivos tanto de sindicatos, independendo de central sindical, como de organizações e personalidades ligados à luta dos trabalhadores.
Em momentos de ataques aos direitos dos trabalhadores e cidadãos, o sucesso de uma greve nestas circunstâncias significa alento para demais categorias e para os embates mais gerais.
É o momento de materializar atitudes que afirmem a tão falada e pouco praticada “solidariedade de classe”.