
A crescente desigualdade econômica e social nas sociedades capitalistas tem provocado desconforto a ponto de levar a indústria cinematográfica a produzir filmes como Coringa ou Parasita. Neste ano de 2021 a “bola da vez” é o filme Tigre Branco, produção da Netflix que conta a história sobre os dramas e contradições de quem tenta prosperar economicamente no capitalismo indiano.
Provocar desconforto é uma leitura positiva de minha parte. Uma leitura negativa pode apontar para uma naturalização das desigualdades tendo como consequência a proliferação de estórias bem contadas mas que pouco interferem na realidade. Podem trazer algum desconforto momentâneo mas o exótico ou o inusitado tende a prevalecer. O que me chama a atenção é que em passado recente narrativas desta natureza faziam parte da cinematografia anticapitalista sem o financiamento de grandes produtoras.
Mas vamos ao filme sem a pretensão de me passar por crítico de cinema. O narrador do filme, Balram, conta a sua história de empresário bem sucedido a partir da sua infância miserável numa aldeia idem. Após a adolescência toma a decisão de se mudar para um centro urbano e tentar a vida como motorista de uma família que acumula fortuna e poder político. Logo cedo conclui que as castas que organizam a sociedade indiana são na verdade duas : os pobres e os ricos, como em qualquer sociedade capitalista. E ao perceber, a partir do convívio com os seus patrões, como funciona o sistema político partidário do seu país conclui que os pobres só tem duas alternativas para ascenderem : ou pelo crime ou pela política.
Desnecessário dizer que o personagem envereda por este caminho. Não se trata de “spoiler”; desde o início o nosso herói se apresenta disposto a atitudes inescrupulosas. O interessante no desenrolar da estória são as contradições entre a subserviência construída socialmente e que faz parte da personalidade de Balram e as tentativas de superação desta por vias pragmáticas.
O desfecho me pareceu propositalmente inconclusivo e desconfortável. Fico na expectativa de conseguir construir outros desfechos. “Tigre Branco” está disponível na plataforma Netflix…. assista e deixe a sua opinião nos comentários.
E atente para a trilha sonora; o pop indiano me soou interessante: globalizado porém sem perder as características locais.