Publico aqui contribuição do companheiro Thiago Carvalho sobre a necessidade de construção de uma “frente de esquerda” debate necessário neste momento me que outras concepções de arranjos necessários ao enfrentamento do autoritarismo se fazem necessárias. Não se trata de um tema estritamente sindical mas que deve também ser debatido pelas organizações dos trabalhadores.

O texto foi publicado originalmente no portal Midia 4P e pode ser lido aqui. Reproduzo a seguir o texto na íntegra. Contribuições sobre o tema são bem vindas.

As últimas semanas têm me levado a refletir sobre a atuação de nossa militância. Estamos num momento de ativismo virtual em que o principal debate gira em torno da análise comportamental dos participantes do BBB e, enquanto isso, a vida real nos mostra que ainda enfrentamos os mesmos problemas de sempre, com nossos inimigos ganhando corpo e força e impondo a sua agenda neoliberal e antiprogressista sobre nós, enfraquecendo, assim, a nossa luta e nos levando a minimizar as nossas pautas.

Os setores conservadores do Brasil estão mais fortalecidos do que nunca, tendo as igrejas neopentecostais ganhando cada vez mais poder, ocupando espaços importantes no governo, bem como exercendo papel central nas decisões políticas do núcleo duro do governo Bolsonaro, influenciando, ainda mais, no crescimento do conservadorismo, incitando, inclusive, a violência contra as minorias políticas.

Ademais, não podemos deixar de citar a relação desses diversos setores da elite brasileira que apoiam o governo Bolsonaro com grupos de milícia e crime organizado, servindo, inclusive, como ferramentas de lavagem e dinheiro e outras operações espúrias e ilegais que fortalecem e enriquecem as organizações conservadoras que hoje detém o poder central no governo brasileiro.

O jogo que tá sendo jogado, definitivamente, não é para amadores. Enquanto a popularidade do governo de Bolsonaro é diariamente posta à prova, a elite brasileira busca outras alternativas para garantir a continuidade de seu projeto de dominação do Brasil, ao tempo em que ampliam seus espaços dentro do governo federal, controlando a máquina do Estado brasileiro por dentro e fazendo toda a engrenagem girar em seu favor.

As políticas sociais vêm sendo pensadas e executadas pelas igrejas neopentecostais que destacam seus quadros mais conservadores para executar tal tarefa; a política econômica é construída em conjunto com banqueiros e alguns que detém o controle empresarial, donos dos meios de produção no Brasil; a política de segurança pública (inexistente) é pensada para beneficiar as milícias e o crime organizado.

Nosso povo continua morrendo e sendo posto à margem num país em que o autoritarismo impera como nunca dantes em sua história pós-ditadura. A alternativa de saída pelo centro, nada mais é do que a continuidade de um projeto capitalista e neoimperialista e conservador, contudo, sem ter como figura central um louco, apresentando como nome algum bom moço, novo na política e que tenha o perfil da elite branca e conservadora brasileira.

A saída para a liberdade do povo negro, pobre, para os setores da classe média que outrora se mobilizaram sob o comando da grande mídia para dar um golpe de Estado num governo legitimo e democrático – golpe esse orquestrado pela mesma elite que hoje leva o brasil à bancarrota – não passa por uma falsa mudança de projeto que se disfarça de centro; a saída é pela esquerda, com a aliança do campo progressista.

Entretanto, não existe saída pela esquerda sem mobilização popular, sem diálogo com a classe média, sem proposição de um projeto que aponte alternativas outras perante a crise econômica vivida pelo país e, sobretudo, sem combater o racismo e as desigualdades sociais. Temos um caminho extremamente tortuoso pela frente e cheio de obstáculos.

A intenção da elite é usar a grande mídia e os meios de comunicação para nos desmobilizar e nos colocar em guerra nós contra nós mesmos. Ou acordamos para os verdadeiros desafios que nós temos e partimos pro enfrentamento ou vamos continuar sob as amarras de nossos colonizadores que nos oprimem desde que o Brasil é Brasil.

Thiago Carvalho é Administrador, militante do Coletivo de Entidades Negras – CEN, filiado ao PT, militante da Esquerda Popular Socialista