No sábado, 17 de março último dia de debates, levei minha filha de 17 anos para visitar o FSM. Dias antes ela esteve presente mas não conseguiu identificar uma atividade que a interessasse e pediu ajuda ao pai. Começamos a andar pelo campus de Ondina e me lembrei que na tenda da CUT haveria uma mesa promovida pela APUB denominada “Universidade e Democracia: o momento atual”. Como ela está se preparando para o ENEM e temos a expectativa de vê-la na Universidade no próximo ano achei a atividade adequada.
Lá chegando findava a intervenção do Prof Luis Felipe Miguel da UNB, professor que propôs a disciplina sobre o golpe de 2016. Palmas efusivas e gritos esparsos de “fora Temer”. A seguir fez uso da palavra o professor e reitor da UFBa João Carlos Salles. Discorreu sobre a autonomia universitária e a existência de mecanismos internos de avaliação e controle para enfatizar que a autonomia não é sinônimo de bagunça. Citou os projetos de lei denominados genericamente de “escola sem partido” e ao fim da fala minha filha me pergunta: e quem vai defender os “escola sem partido”. Expliquei-lhe que não haveria esta defesa e ela retrucou de imediato: “então não é debate, se todos defendem a mesma coisa não existe debate”. Mais tarde voltamos a conversar sobre o assunto e sobre o momento por que passa o país e que tornam o debate, tal qual ela acredita que deva ser (e eu também), praticamente impossível.
Mas onde quero chegar: embora houvessem vários matizes e correntes do pensamento progressista no mundo, raras foram as oportunidades de debates propriamente ditos. Cada segmento dialogou com os seus iguais. Cada central sindical organizou programação específica mas não me recordo de evento onde todas as centrais estivessem lado a lado.
O mesmo aconteceu com os partidos políticos, movimentos por moradia e demais. Claro que houveram bem mais pontos positivos. Mas esta pouca disposição para o confronto de idéias no campo progressista só consolida a fragmentação e dificulta a produção de sínteses necessárias para o enfrentamento deste momento de obscurantismo
Palmas para sua filha pelos comentários . Vc deve estar orgulhoso. Tenho uma filha de 14 anos e espero que este espírito crítico seja semeado permanentemente. Como dizia o poeta popular baiano “prefiro ser um metamorfose ambulante do que ter a velha opinião formada sobre tudo”.
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