Reproduzo aqui o texto do companheiro Diogo Carvalho avaliando as manifestações ocorridas no 26 de maio. Este texto foi publicado originalmente no Facebook na página do Renova PT, coletivo baiano que pretende disputar a direção do Partido dos Trabalhadores na Bahia no processo de renovação de direção que ocorre neste ano de 2019.

foto diogo

Escrevo este texto com o intuito de gerar um debate sobre os impactos das manifestações da extrema direita no cenário político brasileiro. O número de manifestantes e a amplitude dos atos permitiu a visualização numérica e qualitativa da base orgânica do governo Bolsonaro.

É importante destacar que os protestos foram apoiados e convocados por apenas uma fração dos setores da sociedade brasileira que apoiam o Governo. Ou seja, os atos foram grandes, mas poderiam ser maiores caso o Governo tivesse conseguido a unidade política de todo seu capital político em torno das manifestações. O fato da fragmentação quanto a convocação não transformou as manifestações em um fiasco, como muitos companheiros previam.

Na minha avaliação as manifestações foram um alerta para a esquerda. Um alerta no sentido de não subestimarmos novamente a base social da extrema direita brasileira, como fizemos nas últimas eleições e no processo golpista que destituiu o governo eleito da Presidenta Dilma.

As pessoas que foram às ruas no último domingo fazem parte do escopo populacional diretamente atingido pela máquina de propaganda montada pela extrema direita nos últimos seis anos e que continua ativa, descentralizada e com suporte de aparelhos de inteligência tanto de governos estrangeiros quanto nacionais. Vários pesquisadores detectaram que o aparelho de comunicação bolsonarista está ativo e a propaganda transmitida acompanha os embates políticos-ideológicos que o governo enfrenta cotidianamente.

Estamos perdendo a disputa ideológica e de projetos devido ao fato de não termos meios que permitam um marketing contra hegemônico que atinja setores da população que não são fascistas, mas que consomem conteúdo fascistizante e identificam a solução dos seus problemas nas mensagens políticas que são direcionadas para grupos sociais específicos a partir de dados de big data, que mapeiam raça, classe, gênero etc.

Assim, fica fácil entender um dia depois dos atos, como o governo conseguiu emparedar o legislativo e judiciário em torno das pautas defendidas nas manifestações de domingo. Não foi gratuito que a esquerda não tenha sido o principal alvos do manifestantes, Maia e o STF foram os grandes destinatários das fake news e das manifestações de ódio que ocorreram no dia 26.

Em resumo, engana-se quem acha que Bolsonaro irá cair em um futuro próximo, ou que não chegará competitivo em 2020 e 2022. Existe base social para sustentação do governo no curto e no médio prazo, inclusive com a possibilidade de ruptura institucional caso haja uma radicalização do legislativo contra o bloco bolsonarista no executivo. Não podemos esquecer que a Bahia é um oásis dentro de um Brasil que está cada vez mais conservador, nossa situação conjuntural do estado as vezes não permite que vejamos que o crescimento da extrema direita não é artificial, não irá retroagir a curto prazo e que nossos aliados da centro direita estão mais próximos do bolsonarismo do que de uma provável aliança com o campo conservador nas próximas eleições.

Caso os setores progressistas não se renovem em termos de linguagem comunicacional seremos, mais uma vez, derrotados através de práticas políticas neofascistas. Enquanto não formos capazes de explicar e convencer setores sociais, que terão perdas irreparáveis de direitos durante os governos de extrema direita, estaremos falando para um mesmo público determinado por algoritmos, que alguns autores já consideram como mecanismos matemáticos de destruição em massa e controlados por monopólios empresariais com relações umbilicais com agências internacionais de informação que possuem interesses geopolíticos no Brasil.

Assim, as manifestações de domingo fortalecerem a pauta do governo e enfraqueceram uma insipiente oposição de direita que ainda estava em formação.

Diogo Carvalho é historiador, mestre em Comunicação e Cultura Contemporanea pela FACOM e doutorando em História pela FFCH da UFBa