Desnecessário entrar em detalhes já que a imprensa explora incessantemente: um garoto pobre pedia ajuda para almoçar, conseguiu um prato de comida e o segurança do Shopping da Bahia, antigo Iguatemi, tentou impedir que a refeição se desse no interior do shopping.

A novidade – novidade ? Quem anda no antigo Iguatemi e observa a ação dos seguranças sabe que é comum que garotos acessem o shopping pelo setor dos cinemas e se dirija à praça de alimentação contígua para pedir comida nos restaurantes mais próximos ao acesso. Sabe também que os seguranças sempre tiveram a atitude de impedir que a ajuda se concretizasse. E ainda “alertam” aqueles que se dispõem a pagar uma refeição para os garotos sobre os “riscos” da ajuda acusando os garotos de serem ladrões ou futuros meliantes. Algumas pessoas desistem e outros compram a refeição e entregam aos garotos sob a ameaça dos seguranças. A diferença desta vez é que uma pessoa resolver levar a situação às últimas consequências, “deu testa” como bem falamos e desafiou o segurança.

A reincidência destes fatos me leva à certeza de que se trata de orientação da gestão do shopping e não um simples desvio de conduta individual do segurança. Que tem responsabilidades no caso mas não é o único.

E o movimento sindical – a narrativa construída pela gestão do shopping e aceita pelos meios de comunicação (que tem neste shopping um grande anunciante) atribui toda a responsabilidade ao segurança acusando-o de agir em desacordo com as normas da organização e expondo-o à execração pública. Sendo passível inclusive de sanção penal.

Como tenho a convicção de que se trata de uma situação de discriminação institucional tenho também a convicção de que cabe ao movimento sindical defender, em termos, o seu representado (independendo de ser sindicalizado ou não) uma vez que o mesmo segue orientações, nem sempre formais, de quem o contrata. E neste caso quem o contrata tem que ser responsabilizado pelos desvios de conduta.

Ao tomar esta iniciativa o movimento sindical tem a possibilidade de tratar de maneira coletiva uma questão social presente na nossa cidade. Ou alguém acredita que se trata de caso isolado em um só shopping?

Ao mesmo tempo é uma boa oportunidade do movimento sindical politizar (não confundam com partidarizar) a questão: cabe ao vigilante manter a ordem em espaços privados. Mas qual ordem? A serviço de quais interesses? Cabe ao segurança, pura e simplesmente, ter que reproduzir padrões de atitudes de segregação contra pessoas com as quais ela guarda identidade étnica e/ou social ?

Problematizar estas questões é também tratar da luta de classes e construir contra hegemonia da mesma forma que o é lutar por salários e melhores condições de trabalho.

Não assumir estas questões é deixar o trabalhador exposto e corroborar para que questões sociais e coletivas sejam tratadas como desvios individuais. E levar à indagação silenciosa e solitária : sindicato pra quê se nesta hora estou sozinho?