
A viralização de um vídeo onde um turista protesta contra a ocupação da faixa de areia da praia do Porto da Barra por guardas sol (os populares “sombreros”), mesas e cadeiras com a sua utilização comercializada por “barraqueiros” de praia trouxe à tona algumas questões referentes não só ao uso do solo como também ao mercado de trabalho cada vez mais precário em Salvador.
Cada ator social reage de uma forma e de acordo, óbvio, com os seus interesses: o público local e o turista com menor poder de compra pouco usa estes serviços e deseja uma praia livre para a completa fruição da areia. O turista mais abastado topa pagar mais caro por estes serviços mas quer um visual menos poluído. Nenhum destes se importa, sabe-se lá porque, com a supressão da paisagem e em menor medida do acesso às praias patrocinados pelos camarotes do carnaval frequentados pela classe média abastada.
A Prefeitura de Salvador descobriu, tardiamente, que é o poder mediador destas relações e resolveu atuar. Poderia tê-lo feito antes do verão chegar e construir regras de ocupação do espaço de maneira negociada. Não o fez e foi além : tolerou a progressiva ocupação da faixa de areia. Prevaricou e não continuou a fazê-lo por conta do tal vídeo. E continua a fazer vistas grossas em outros usos indevidos das praias e outros espaços públicos.
E os trabalhadores ? – estes pagarão o preço da desorganização política pois quase sempre elegem como mediadores das suas demandas vereadores e “cabos eleitorais”. Talvez descubram agora que devem se organizar de alguma forma : cooperativas, associações, sindicatos, … E talvez, mantenho uma declinante esperança, o movimento sindical perceba que existe um imenso contigente de trabalhadores informais que carecem de ações de fomento organizativo.
Hoje são barraqueiros de praia (na verdade existe toda uma cadeia produtiva que começa pelo aluguel de espaços de guarda de equipamentos, captação do cliente ainda nas ruas até chegar no atendimento propriamente dito); mas observando com alguma boa vontade temos um imenso exército de trabalhadores que fazem um “ganho” durante o verão. Sempre às margens de qualquer direito e entregues às leis do mercado. Até que outro conflito apareça.
Aproveito para recomendar a leitura do post do prof Cláudio André que pautou o debate sob outra perspectiva, diferente da narrativa da mídia empresarial